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sábado, 7 de setembro de 2013

Pato D´Oiro 2010


Característica diferenciadora: Luxo em garrafa.

Preço: 45€

Onde: Garrafeiras especializadas

Nota pessoal: 18.5


Comentário: Escrever sobre um vinho produzido por Luis Pato e José Bento dos Santos é mais ou menos como escrever uma fábula sobre imaginar o que seria uma acção de altruísmo acordada entre Mahatma Gandhi e a Madre Teresa de Calcultá. 

Para quem gosta de carros, talvez se aproxime ao que seria guiar um carro que tivesse a longevidade dum Mercedes, com o estilo, design e condução dum Porsche e o rugido num Ferrari sempre que se ultrapassasse as 4000 rpm. 

Para os mais fúteis amantes de futebol, era um team  onde alinhava o Preud´homme na baliza, o Baresi na defesa, o meio campo com Ronaldo, Messi, Maradona e Pelé a servirem Puskas e Eusébio soltos na frente. A restante constituição da defesa, como compreendem, é indiferente.

Do ponto de vista intelectual era ter uma soirée numa mesa octagonal com Joana D´Arc, Freud, Churchill, D. Afonso Henriques, César, Pasteur, Casanova e o Ricardo Araújo Pereira para mediar a discussão. Numa sala ao lado, estaria o Dali e o Fernando Pessoa para quem quisesse ouvir um chill out com o James Douglas Morrison na mesa de mistura.

Bom... estas metáforas são excentricidades que nem o Euromilhões pode satisfazer tamanho capricho. Mas encher uma garrafeira deste vinho, sim, quiçá seria possível.

Parece-me que está esclarecida a admiração que tenho por estes dois Produtores. Mais do que pela qualidade com que os vinhos saem para o mercado, mas mais, muito mais... pela qualidade superlativa que se exponencia à medida que os anos passam na garrafeira e provamos garrafas antigas.

Foi mais ao menos embuído neste espírito curioso por natureza com que retirei a rolha a uma garrafa destas este ano. Sou precipitado, é verdade, mas gosto de opinar com conhecimento de causa.

Barrica excelente!
É expressiva? É. Cansa? Não.
Porque é que é boa? Porque nos faz reavaliar a nossa própria ideia de boas integrações de barrica em vinho. Reposicionamos todas as memórias que já temos sobre vinhos e respectivo "casamento" com madeira. Quando assim é, a civilização avança.

Muita fruta silvestre no aroma, doce e concentrado.
Ao mesmo tempo que tem estas  nuances aromáticas deliciosas e mais joviais, mostra-se sério...muito sério, com a barrica acentuada mas, mais uma vez, magistralmente integrada.
Fruta silvestre persistente. Lácteo ligeiro.

E, posto isto, passam-se vários minutos. Em vez de levarmos o copo à boca mal aterra no copo, sacia-se só com o nariz.

A cor é amora escura, opaco. Brilhante... não, lustroso. Tem brilho na sua textura.

Uns bons 15 minutos depois, prova-se!

Boca fantástica, avassaladora.
Muita intensidade, cremoso e muito, muito elegante. Ao ponto de, se pega na moda, na próxima Moda Lisboa (passe a redundância), a imprensa caracteriza algumas colecções como irreverentes e outras, as que trazem uma nova dimensão ao impacto da vulgar "elegância", como: "... a colecção de determinado criador é marcada por muito Pato D´Oiro". É uma patamar diferente de "elegância".

Acidez presente e taninos extremamente bem polidos, conferem à prova de boca sinal evidente do músculo que este vinho tem, e terá!
Fesquíssimo, luxuoso e cheio de pormenores. Muito guloso. Fruta silvestre, encarnada, viva,  a comprovar as notas aromáticas e final muito longo. Sempre muito elegante.

O vinho imediatamente mostra a sua musculatura atlética, fora de modas, mas contemporãneo. Tem acidez e ao mesmo tempo a suculência da fruta que poucos conseguem alcançar e a maior parte nem ambiciona, pois não sabe que a suculência está para o mel como o frutado está para o caramelo... e são ambos doces.

O equilibrio entre a acidez e vivacidade e a suculência aportam à prova uma dimensão muito diferente do que se produz em Portugal.
Coerente ao longo da prova, sempre a crescer em termos de vivacidade, intensidade, é daquelas garrafas que parecem nos provocam ilusões, ou seja, alteração ao nível da percepção sensorial, nomeadamente da vista e tacto, pois a garrafa assemelha-se a ter 0,75l, mas dura muito menos que as "outras", e no mínimo bebia-se o dobro, até à última gota.
Mineralidade presente também e muita finesse.

Não estou surpreendido, pela admiração já reconhecida. Estou estupefacto pela sensação que tive.
É das experiências que marcam, pois sabem muito bem.
Muito prazer em partilhar esta garrafa com ilustres amigos e entusiastas deste mundo de experiências que é o vinho. Talvez tenha ajudado, no entanto, acho que quando voltar a beber uma garrafa, se a beber sozinho saber-me-á extraordinariamente bem também!

Seguramenta na imprensa profissional se esclarecerá a origem deste vinho, as castas, o porquê de ter sido produzido, etc... também o sei. É é de louvar.
Mas neste caso, o texto é muito mais para agradecer e homenegear do que para caracterizar.

A minha humilde homenagem e obrigado ao Engº. José Bento dos Santos, ao Engº. Luis Pato e respectivas equipas que articularam ideias, executaram e engarrafaram este vinho.

Provador: Mr. Wolf

Roda Reserva 2007


Característica diferenciadora: Elegância.


Preço: 30€

Onde: Garrafeiras especializadas. 

Nota pessoal: 17.5

Comentário:  De Espanha podem não vir bons ventos, mas há seguramente bons vinhos. Há que prová-los e ir conhecendo. E é desta forma que resolvemos servir num jantar este Roda Reserva de 2007.
89% Tempranillo ( a "nossa" Tinta Roriz), 8% Garnacha e 3% Graciano, com fermentação em barrica e estágio de 16 meses em barrica e 20 meses em garrafa.

Rubi muito escuro e opaco. Para 6 anos, a densidade cromática é surpreendente.
Aromas iniciais de carne fumada. Aromas muito ligeiros de fruta encarnada, mas é no fumado e especiaria que encontra o seu carácter principal.
Prova de boca muito boa. Equilíbrio geral, muito cremoso e especiado. Algum cravinho na língua e essencialmente um final que se destaca pela persistência.
É um clássico. Não impressiona os sentidos pela exuberância de aromas ou expressividade de acidez, fruta ou taninos, mas sim, satisfaz muito pela facilidade com que se bebe e pela cremosidade que tem.
Paladar muito "colonial", com semelhanças a café moído e ligeiro cacau.

Bom vinho e fácil de encontrar, nos free shops, por exemplo.


Provador: Mr. Wolf







quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Zambujeiro 2005


Característica diferenciadora: Volume, elegância e Alicante Bouschet de sonho.

Preço: 45€

Onde: Garrafeiras especializadas 

Nota pessoal: 18.5


Comentário: Quando nada o fazia prever num jantar simples... chegou-nos à mesa esta garrafa, impecavelmente guardada nos últimos anos.
Uma estreia, visto que só tinha tido o prazer de provar o mítico ano de 2001.

Retira-se a rolha... vislumbramos uma bonita cor rosada escura muito homogénea no carimbo da rolha!
Aponta-se a garrafa ao copo...o vinho impressiona logo pelo lustroso e escorreito rubi escuro.
Dada uma única volta no copo, os aromas colocam os sentidos... em sentido. Extremamente sedutor, com aromas especiados e doces, misturado com aromas de azeitonas verdes. Barrica de excelente qualidade, muito bem integrada no conjunto, sem marcar, mas a cumprir a função de prolongar complexidade e profundidade aromática. Fantástico.

Prova de boca extraordinária. Vinho muito "cheio", guloso, volumoso que no ataque à prova mostra-se imediatamente como ele é. É excelente.
Vigoroso na concentração, é bastante "aveludado" nos taninos, que estão bem presentes e a mostrar que temos aqui Alentejo para muitos anos. Muito redondo, muito "comprido", é realmente um vinho que se "mastiga".
Apesar do seu vigor e concentração é ao mesmo tempo bastante equilibrado e termina de forma longa, mas bastante elegante. A excelente barrica onde estagiou acompanha a prova toda, desde os aromas ao final, onde está maravilhosamente integrada.
Marca do Alentejo vincada. Tem a marca do melhor que se faz no Alentejo e é um Marco para mim do que é o Alentejo. Fora de modas apesar de ser contemporãneo no perfil, não tem medo de usar e provavelmente abusar dessa maravilhosa casta (Alicante Bouschet) que quando é bem trabalhada, constrói a história do melhor que o Alentejo traz para a mesa... Excelente Alicante Bouschet. Lote com Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Aragonês.
No perfil que falo, a par com Mouchão, não conheço nada que ombreie com este vinho.

Provador: Mr. Wolf

domingo, 1 de setembro de 2013

Campolargo Tinto Alvarelhão 2011


Característica diferenciadora: Perfil.

Preço: 15€

Onde: Garrafeiras especializadas

Nota pessoal: 17


Comentário: Passado um ano que provei pela primeira vez este vinho (colocado aqui em Setembro de 2012), a curiosidade era muita. Há um ano gostei muito! Como estará agora? Era uma prova muito polémica.

Cor de opacidade ténue, cor rubi palido... curioso... era mais ligeiro no verão passado. Lágrima apreciavel. . Nariz fumado e ligeiras notas de fumeiro, carne fumada.
Alguns aromas de vegetal, aproximando-se de pimento verde.
Fruta ligeira, morango, framboesa. Mais arejado, cereja muito, muito madura.
Prova de boca doce, com tanino muito disfarçado e esforçado, amparado por acidez muito ajustada. Final de boca bom.
Prova persistente de final cheio de garra e notas de toranja. O vinho ainda se transforma muito com o arejamento. Tem perfil muito específico, não agradará a muitos, mas eu gosto muito. Vinho para uns tapas de presunto. Tem acidez para acompanhar e é falsamente leve para não se sobrepor. Gosto muito do perfil.

Provador: Mr. Wolf

Marquesa de Alorna Reserva Branco 2009


Característica diferenciadora: Ribatejo

Preço:18€

Onde: Garrafeiras especializadas e alguns supermercados

Nota pessoal: 16.5


Comentário: Quinta da Alorna é um marco incontornável dos vinhos do Ribatejo.
Vinhos de carácter, com preços sempre muito ajustados à sua elevada qualidade e produzido em quantidades muito apreciáveis.
Recordo com muito boa memória os grandes Colheita Seleccionada tinto de 1999 e o melhor de todos... o Cabernet Sauvignon Reserva 1998.

A Quinta da Alorna acompanhou bem os tempos actuais, "contemporaneizou-se" e tem desde há uns anos uma boa  imagem, boa colocação no mercado, normalmente disponível nas grandes superfícies e sempre a preços muito adequados.

Atirando para o Marquesa de Alorna Reserva Branco, apontamos ao topo de gama. Já provado noutras ocasiões, nunca tinha colocado apreciação sobre ele... normalmente, só coloco apreciações quando gosto dos vinhos. E desta garrafa, gostei.

Tostado, amarelo torrado e denso.
Nariz com aromas de tropical e doce. Respirando, a fruta, mais do que tropical parece fruta de medronheiro. É muito específico, mas é de facto ao que se assemelha mais. Doce no nariz com levedura.
Prova de boca boa. Mais impressionante no início e curta no fim. Mas boa.
Barrica de qualidade em destaque. Untuoso mas a ficar cansado. A mineralidade que tem não chega para acompanhar a oxidação a que já está sujeito. Está a chegar ao limite de equilíbrio entre oxidação e frescura.
É no entanto muito bom... simplesmente vê-se que é um vinho com muito cuidado na produção e na forma como "se veste" e aí, a expectativa coloca-nos um grau de exigência que não se compadece com algum cansaço que apresenta... na prática está muito bom e é para beber rapidamente... mas merecia ter estrutura para mais uns anos. Mas é um bom vinho branco e um excelente representante do Ribatejo.

Provador: Mr. Wolf

Quinta dos Carvalhais Bical/Loureiro 2000

Característica diferenciadora: Carvalhais... branco com Loureiro e Bical de 2000

Preço: 5-10€

Onde: Garrafeiras especializadas

Nota pessoal: 16.5

Comentário: Quinta dos Carvalhais normalmente é sinal de qualidade. Produtos de discreção quanto baste, berço do sucesso do histórico Duque de Viseu.
Este Loureiro/Bical de 2000 é bastante desconhecido.
Cor mel muito limpo de lágrima bastante expressiva.
Aromas de alperce e abacaxi com alguma calda de maça reineta. Interessante... ligeiras notas de massa de bolo também. Sim, tarte de maça morna.
Prova de boca muito boa.
A untuosidade que se vê na lágrima do copo e poderia antecipar algum peso na prova de boca é surpreendentemente inexistente.
É  fresco e leve o que até faz confusão aos sentidos que naturalmente não se dissociam da imagem "untuosa" e esperavam maior espessura e peso no palato. Tem 13 anos... não esquecer.
Acidez vincada sempre em disputa com a ligeira densidade doce da fruta em calda.
Muito equilibrio, muito bem balanceado, com (suponho) alguma tosta de barrica, eventualmente estagiado com borras, mas muito bem.
Final não muito longo, mas bom e fresco. Perfeito para uma boa caldeirada ou um peixe assado no forno.
Este acompanhou e bem bacalhau com batatas assadas e beringela grelhada.

Um ensaio como o contra rótulo informa, que na minha opinião dá origem a um vinho muito bom e que poderia dar origem a mais um rótulo histórico da casa. Parece-me uma fórmula boa.

Muito bom.

Provador: Mr. Wolf